sábado, 16 de março de 2013

Apelo - Daniel Filipe

Pedido de socorro (onde estou eu?)
lançado ao mar numa garrafa escura.
À minha beira fica a sepultura;
dentro repousa o corpo que foi meu.

Aves de agoiro, a vida como é dura!
Tão pouco azul e derradeiro céu!
O vento norte alastra o claro véu
e esconde aos olhos a nudez impura.

Ah! sol de Junho!, ao menos és real.
teus finos dedos, alongados, tersos,
retratam-me em tamanho natural.

Outros sinais de mim ficam dispersos
Por sobre a água funda e o areal.

No bojo da garrafa vão só versos.

 Daniel Filipe, "O viageiro solitário"

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