sábado, 12 de agosto de 2017

Infinita saudade - Ana Redondo

Gosto dos dias de luar
Posso olhar o céu
E sei que vês a mesma Lua
Reflectindo o seu brilho
Na imensidão do universo

Mas depois chega a saudade
Uma saudade tão grande
“Lua, traz-me notícias do meu amor”
E a Lua cala-se e apenas sorri

Então eu grito mais alto
Clamo aos sete ventos
“Vento, pergunta à Lua novas do meu amor”
E o vento ruge e avança
Mas não traz respostas do meu amor

A minha saudade cresce
Estou junto a um lago
O lago reflecte a Lua
A mesma Lua que ilumina o meu amor
Onde está, por onde anda, o que vive
Estará feliz?

E então atiro-me ao lago
Para poder beijar a Lua
Que ilumina o meu amor

Ana Redondo

Redigido a 10 agosto de 2017


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A um ausente - Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Tomara - Vinicius de Morais

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

O dia em que nasci morra e pereça - Luís de Camões

O dia em que nasci morra e pereça,

O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.

A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

                     

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Ao meu irmão que nunca vi - Ana Redondo

Meu adorado mano
Doce bebé que não cresceu
Semente que veio e voou
Sempre te senti meu irmão
António Manuel
Que vives na minha alma
- Suave luz que me abraça -
Criança amada e erradamente não chorada

Quanta dor não expressa
Viveram Teus pais?
Quantas fúrias inúteis perpassaram p'ra nós
Suas filhas (vivas)?

Não sei meu amor
Ainda hoje não sei nada
Só sei que venho oferecer-te
Do mais verdadeiro e profundo do meu ser
A tristeza, o amor, o carinho
O luto e a melancolia
Que, por paradigmas errados,
 Não puderam, não souberam vivenciar

Ana Redondo

Redigido a 24 Julho 2017