terça-feira, 18 de março de 2014

Escritos - Carlos Drummond de Andrade

 Fazer da areia, terra e água uma canção
 Depois, moldar de vento a flauta
 que há de espalhar esta canção
 Por fim tecer de amor lábios e dedos
 que a flauta animarão
 E a flauta, sem nada mais que puro som
 envolverá o sonho da canção
 por todo o sempre, neste mundo

Com o perdão das feministas - Nara Rúbia Ribeiro



No dia em que acordei flor
Dei pra ter carinho de pássaro,
Passei a declinar borboletas
E um pirilampo sonhou meu sol.

E de tanto ouvir os sábios conselhos dos grilos
E as recomendações do louva-a-deus,
Desabrochei de amor
Em maio molhado de orvalho.

Sei.
"Ser flor de maio não é nada moderno,"
Mas perdi o medo
Do que é eterno.

Anúncio de entardecer - Nara Rúbia Ribeiro

 Procura-se um sonho.
 Ele andou fatiado de medos,
 Iludiu-se, imiscuiu-se,
 E chegou a flertar com a utopia.

 Quem o encontrar,
 Diz a ele que o perdoo por tudo.
 Que o meu peito, em cicatrizes,
 É hoje até mais bonito que antes.

 Que aprendi que a força se desdobra
 Em indizíveis fraquezas.
 E que enquanto ainda chorava de inércia
 Meus olhos colheram do sol
 A força de desabrochar o meu mundo.

 Diz que a solidão me consome os espaços.
 E a vizinhança inteira me ouviu a gritar por seu nome.
 Diz que sangro a sua ausência
 E os seus silêncios me transbordam.
 Diz ao meu sonho que ele venceu.

 A minh' alma não se vendeu.