segunda-feira, 12 de maio de 2014

Só - Ana Redondo (1978)

Sei viver só
E já nem temo a solidão da noite
E o infinito do absoluto silêncio

Aprendi a olhar sozinha
Para o belo à minha volta
Aprendi, bem melhor ainda, a sofrer sozinha
E a verter lágrimas de pedra no interior do coração
Aprendi a interiorizar os pensamentos
E a nunca exteriorizar as emoções
E agora já não penso socialmente
Nem tenho emoções vividas
Aprendi tão bem a desenvolver interiores sensações
Que já nem sei exteriorizá-las
Mas como a exteriorização é parte da sensação
Creio que tenho assim um a vivência diferente
Aprendi a conter as minhas necessidades
E alimentar-me da solidão interior
Aprendi a negar tudo
Ao realizar que tudo me era negado

A minha máscara de gelo
Tornou-se o gelo do meu eu
Emoldurou-se tão perfeita no meu rosto
Que o meu rosto é ela própria
E nada mais ficou
E já não sei chorar
E já não sei sofrer
E só sei que nada quero
Porque nunca nada conseguiria
É tão perfeita a auto-destruição
Que francamente só queria
E muito profundamente
Coragem p'ra me matar


Ana Redondo, 1978

Sem comentários:

Enviar um comentário