segunda-feira, 12 de maio de 2014

Vida adulta - Ana Redondo (1981)

Agora que trato o mundo
Como massa anónima
E cada ser que eventualmente cruzo
Como potencial impulsionador
Do instante que passa
Que se esbaterá na sombra
Sem deixar rasto nem dor

Agora que vivo só
Com espectro circulante
E separado da vida
Agora que penso a cidade
Como expressão do urbanismo,
Manobro a oferta e a procura
Como entidades objectivas, exteriores
E o par de namorados
Como curiosidade sociológica

Agora que me rejo pela lei dos grandes números
E decido o futuro
Numa calculadora electrónica,
Agora que quebrei as amarras
Como a minha individualidade sensível
E encerrei bem selada
A minha vida emotiva,
Agora sim, estou preparada
Serei uma eficiente máquina
Na cibernética capitalista.


Ana Redondo, 1981

1 comentário:

  1. Análise pragmática e sempre atual. Gosto da estrutura, mas a vida emocional nunca se consegue fechar. Somos sempre, em todas as idades, crianças que pedem mimos os fazem birras. Bjs

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