Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um
castelo,
E talvez apenas a continuação da
estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da
curva
Só olho para a estrada antes da
curva,
Porque não posso ver senão a estrada
antes da curva.
De nada me serviria estar olhando
para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar
onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e
não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da
estrada,
Esses que se preocupem com o que há
para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá,
quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não
estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva,
e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
in “Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro (Recolha,
transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) [Lisboa: Presença,1994.]
Sem comentários:
Enviar um comentário