sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A demora - Mia Couto

 O amor nos condena: 
 demoras 
 mesmo quando chegas antes. 
 Porque não é no tempo que eu te espero. 

 Espero-te antes de haver vida 
 e és tu quem faz nascer os dias. 

 Quando chegas 
 já não sou senão saudade 
 e as flores 
 tombam-me dos braços 
 para dar cor ao chão em que te ergues. 

 Perdido o lugar 
 em que te aguardo, 
 só me resta água no lábio 
 para aplacar a tua sede. 

 Envelhecida a palavra, 
 tomo a lua por minha boca 
 e a noite, já sem voz 
 se vai despindo em ti. 

 O teu vestido tomba 
 e é uma nuvem. 
 O teu corpo se deita no meu, 
 um rio se vai aguando até ser mar. 

MIA COUTO, in IDADES CIDADES DIVINDADES

Sem comentários:

Enviar um comentário