Vive, dizes, no
presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o
presente, quero a realidade;
Quero as cousas que
existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao
passado e ao futuro.
É uma cousa que existe
em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade,
as cousas sem presente.
Não quero incluir o
tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas
cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de
si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as
devia tratar.
Eu não as devia tratar
por nada.
Eu devia vê-las, apenas
vê-las;
Vê-las até não poder
pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem
espaço,
Ver podendo dispensar
tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver,
que não é nenhuma.
Alberto Caeiro, Heterónimo de Fernando Pessoa
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