sábado, 14 de dezembro de 2013

Poema - Cecília Meireles

 No desequilíbrio dos mares,
 as proas giram sozinhas...
 Numa das naves que afundaram
 é que certamente tu vinhas.

 Eu te esperei todos os séculos
 sem desespero e sem desgosto,
 e morri de infinitas mortes
 guardando sempre o mesmo rosto

 Quando as ondas te carregaram
 meu olhos, entre águas e areias,
 cegaram como os das estátuas,
 a tudo quanto existe alheias.

 Minhas mãos pararam sobre o ar
 e endureceram junto ao vento,
 e perderam a cor que tinham
 e a lembrança do movimento.

 E o sorriso que eu te levava
 desprendeu-se e caiu de mim:
 e só talvez ele ainda viva
 dentro destas águas sem fim

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