segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um parafuso na engrenagem (2013)





Como reagir quando o choque é tão brutal
Que secam todas as lágrimas?
A que tronco me amparar
Se o meu infortúnio, nem sobre o mar
Em forma de água e sal, posso derramar?
Que céu poderei ainda fitar
Se, em retorno do meu suor,
Zelo, labuta, fervor,
Recebo, ao entrever a meta,
Outro golpe fatal?

Ao longo dos anos desfiz-me de logros e miragens
Aprendi bem o funcionamento de toda a engrenagem
E agora, o meu olhar já fixo no final,
Recebo ainda outro golpe letal!

E apenas a mim própria posso culpar
"Tola, ignorante, inepta"
Por mais que tentes
Nunca vais assimilar!
Os teus talentos até metem dó!
Já era altura de na terra pousares
E a realidade enfrentares.
Tu foste sempre e só
Um parafuso bem lubrificado,
Útil, eficiente, mil vezes utilizado.
De tanto te testarem e vergarem
Venceste os limites do metal.
Mas um parafuso só serve para apertar
E depois, com o mínimo esforço possível,
Para o lixo arremessar:
"Dispensável!
Fora de validade!"

Porque eles, mestre ilustres
São como os abutres
E a tua linha de montagem
Já nem está a facturar...
E assim fico, inerte e exausta,
Aprisionada neste abismo mortal.


Ana Redondo, Julho 2013 

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