sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

afinal ainda escrevo versos (serão mesmo?) :)

Hoje solto aqui o meu lamento
Para que o meu grito se torne canção
E do meu tormento
Nasça a emoção.

Já não sei viver
Nesta rotina amarga
Toda este desvario
Ensandeceu-me a alma
Esta pesada carga
Tornou-se o meu martírio.

Se os que estão inertes
Moídos, cansados
Saíssem à rua
E pudessem falar
Talvez que a fraqueza
Virasse poder
E toda a tristeza
Crua, ensanguentada
Soubesse dizer:
Acabem-se as guerras
Enterrem-se os ódios
Calem-se os canhões

Corpos esventrados
Olhos enlutados
Muros de silêncio

Crianças tão magras
Que nem podem chorar,
Idosos perdidos, sem comunicar,
Juventude amarga,
Sua raiva a alastrar

Envio as minhas preces
Às crianças soldado.
Aprenderam, precoces,
Que só de armas na mão
Terão um amanhã

Nasceram com esperança
E o vigor dos sonhos.
Será que ainda guardam
Neste mundo cruel
A doce lembrança
Do amor de seus pais?

Rostos amargurados,
Corpos desprezados,
Campos abandonados.
E os poderosos
Vêm-nos dizer
Juntem-se à nossa guerra
Se querem vencer

Será que é vitória
Não escutar a dor?
Onde está a glória
De nem saber sofrer?

Mas os pássaros voam,
Florescem os campos,
Brilham as estrelas,
Cantam as cigarras.

Será que ser homem
É não saber escutar?
Viver na indiferença
De já nem olhar
Não sentir, não ver?
E ainda há quem clame
Procura o prazer!

Viver na ausência
Sem esperança, sem crença
É pior que morrer
É esquecer a essência
É fingir não Ser.

Nesta surda indiferença
Como alienados
Ficamos parados
Esquecidos, travados
E tão, tão esgotados
Por já não ter voz,
Que acabamos sendo
O nosso próprio algoz.

Será que a riqueza
Enfraqueceu o homem?
Será que a beleza
Já não traz calor?
Será que a verdade
Já não faz sentido?

E no solo banhado de sangue
E raiado de dor
Eu espero e suplico
Por um rasgo de amor.

(redigido algures nos anos 70)
Ana Redondo

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