segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Entre tu e eu (1981)

Entre tu eu há um desentendimento
Só de carícias feito
Um rol de silêncios sufocados
Um mundo de segredos revelado
Entre tu eu há um mar de palavras por dizer
De gestos por fazer, de mundos por viver
E há também uma corrente de palavras ditas
De gestos desfeitos, de falsas verdades abaladas
Entre tu eu há uma ilusão de desencanto
Um sonho de encontro
Um desespero de esperança
Num mundo destroçado.
Entre tu eu há uma inocência de adultos
E uma fraqueza de crianças
E há a dor dos soluços disfarçados
As lágrimas por chorar
A saudade por sofrer
Mais uma trémula compreensão balbuciante
Um véu de solidão e encobrimento.
E há o instante que desperta
Na eternidade fugaz
Como loucura sensata
Num horizonte sem paz.
Porque em mim e em ti há um querer infinito no futuro
E um desprezo ignóbil pelo "eu"
Há vinte anos de preconceitos calcinados
... E defesas construídas
E ânsias destruídas
E há um abismo de medos, de recuos e tremores
Um desafio de orgulho imesurado
E uma pálida luz no fundo da caverna...

Ana Redondo, 1981

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