domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pai (1969)

Quando te foste embora
Para longe, muito longe
Senti que viver sem ti
Era vazio e fútil
Senti que a casa já não me dizia nada
A casa estava parada
Enquanto o mundo avançava
Quando te foste embora
Nós ficámos sozinhas
Tristes
Isoladas
À mesa faz falta o teu lugar
Está vazia a tua cama
E a cadeira onde te sentas
Pai, porque partiste?
Custa mais ir ao cinema
Ou a casa das tias
Já não se pode ir passear
Nem pelas ruas vaguear
Pai, porque partiste?
Mas mais do que tudo isto
Faz falta o teu carinho, o teu sorriso
O teu amor de Pai
Fazem-me falta, até - quem tal diria
As tuas zangas e lamentos
Os teus conceitos e preconceitos
Pai, porque partiste?
As tuas cartas chegam atrasadas
As tuas notícias quando vêm, estão ultrapassadas
Mas as tuas palavras verdadeiras
Essas não, não vêm nas cartas
Pai, porque partiste?
Sim, já sei porque partiste
Partiste para eu perceber
Quanto te amo
Partiste para me fazer ver
Quanto de ti preciso
Partiste, enfim,
Para cá de longe, arrependida
Bem alto poder gritar
"Pai, perdão
Perdão pelos meus maus pensamentos
Perdão pelos meus lamentos
Compreendi que te amo sempre muito
Pai"
Ana Redondo, Novembro 1969

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