domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sem alma (1969)

Casas informes
Iguais
Pesadas
Todas enfileiradas
Uma massa cinzenta
Cimento agreste e frio
Onde se recortam janelas
Portas e varandas
Casas sem alma...

Fábricas compridas
Com inúmeras secções
E fumo escuro, muito escuro
Que mancha o céu azul
E a cidade empesta
Estranhos odores
Ruídos que não cessam
O comboio que apita
O motor que arranca
Senhoras desconhecidas
A pisar o asfalto
Com sapatos de salto
Homens rudes, operários
Secretários ou ministros
Gente que passa pelas ruas
A pensar na conta bancária ou no trabalho

Sem olhar, sem parar
Sem compreender
Que por detrás das casas frias
Há uma vida que fervilha
Sentimentos, paixões
Problemas
De gente que se fecha a chave e cadeado
E que também não olha
Não vê, não sente...

 Outubro de 1969


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