Vieste de mansinho
Como mágoa cortante
Pequena, esquecida.
Como que perdida
Em soturno recanto.
Criaste raízes
Robustas, perfurantes
Como um extenso manto
De intensos matizes.
Vieste, cresceste, ficaste
Chegaste mais fundo
Ateaste incêndios
No meu ser profundo.
Confundiste-me as rotas
Queimaste os compêndios
Trocaste-me as voltas
Marcaste-me o rosto
E por fim me quebraste
Para não mais me perder.
Falai pois agora,
Mostra-te inteira
Como lança certeira
Que o meu ser partido
Procura-se, enreda-se
E tão enevoado
Já falhou o caminho
E esqueceu o destino.
De tão enredado
Traiu a doçura
Carinho, ternura
E toda a formosura.
Hoje serás benvinda
Entra e revela-te
Agora já creio
Que és real para mim
Não deixes que te afaste
E continue sem ti.
Que a tua transparência
Suscite a diferença.
Então terei forças
Para ser eu mesma
Despir as roupagens
Da política correção
Rasgar as imagens
Exigidas pela sociedade
Ignorar a maldade
Que governa as fileiras.
Dá-me a coragem
De atingir a verdade
Dá-me essa voragem
De saltar fonteiras
Preconceitos, razões.
São apenas embustes
Efabulações
E no meu pobre ego
Medos e ilusões.
Retira os grilhões
Dos fáceis confortos
De amanhãs inúteis
Profanos e fúteis
Como tempos mortos.
Que o meu ser cansado
Tem algo a cumprir
E será isso o que está para vir.
Não será pesado,
Será duro, incerto
Falhanço ou sucesso
Duradouro ou fugaz
Mas isso que importa
Se vier em paz.
Ana Redondo, 5 Fevereiro de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário