A alegria parou
Teve ilusões, fortuna, véus de encanto,
Cenas gloriosas, magias assombrosas,
Momentos de altivez e espanto.
Desligaram as luzes da ribalta
Em grupos, a plateia esvazia-se,
O material da encenação já não faz falta
Desfaz-se.
A tenda onde actuaram
Palhaços e acrobatas
É já ruína sombria
Vestígios de panos e tubos de lata.
Os transeuntes, ainda desatentos,
Irão
lentamente entenderQue não regressam a um mundo igual.
Há aqui algo de fosco, de irreal
Insano.
Caíram por certo em universo virtual,
Oculto mundo paralelo e estranho
Semelhante, sim, mas diferente
Um outro mundo afinal.
Mudaram
os postulados,
Trocaram
as condições,O certo tornou-se errado
A escuridão, claridade.
Mas nem
sequer é tão simples
Como
transcrito em papelTalvez ainda digam que o mal é mal
Mas o mal que eles próprios fazem
De súbito foi virado em bem.
Meu
Deus, que infelicidade.
Afinal
isto é confuso!As regras são círculos,
Encerrados em círculos,
Onde nascem círculos
Cruzando outros círculos
E elipses e hipérboles
Torneando hipérboles.
Meu
Deus, ajuda-me
Nesta
nova geometriaQue, na minha incauta ignorância,
Parece uma anomalia.
Era tudo mais simples
Na minha remota infância!
E o
Senhor me responde,
Com seu
plácido sorriso manso,De quem tudo aceita e suporta
E já não se espanta
Pois conhece a humanidade
Melhor que ninguém!
“É
fácil, muito fácil
A
verdade está sempre onde estão os poderososSabes, aqueles senhores anafados, de anel no dedo
Rosto arqueado
E cabelo bem penteado.
De resto, é mesmo muito fácil,
Só tens que manter o teu registo tácito
De os olhares bem de frente
E concordares sempre.
Vai dizendo que sim
A todas as suas irrisíveis promessas
Não estranhes, não abras o jogo,
Não te tornes um alvo."
E
depois sussurra-me em segredo
Uma
estranha surpresa:“Sabes, eles são tão incultos,
Mas tão confiantes
Na impenetrável rede de defesa
Com que se protegeram
Cercados de sólido muro
Que nem sequer notam
Que se contradizem.
Enganam, desdizem
Sempre que, altivos e com ar sisudo,
Acusam os outros de serem assassinos,
Maldosos, cruéis, profanos,
E assim, impunes ordenam
Que apodreçam no degredo."
Ana Redondo, Junho 2013
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