quinta-feira, 27 de junho de 2013

Universo paralelo (2013)

O circo findou
A alegria parou
Teve ilusões, fortuna, véus de encanto,
Cenas gloriosas, magias assombrosas,
Momentos de altivez e espanto.

Desligaram as luzes da ribalta
Em grupos, a plateia esvazia-se,
O material da encenação já não faz falta
Desfaz-se.
A tenda onde actuaram
Palhaços e acrobatas
É já ruína sombria
Vestígios de panos e tubos de lata.

Os  transeuntes, ainda desatentos,
Irão lentamente entender
Que não regressam a um mundo igual.
Há aqui algo de fosco, de irreal
Insano.
Caíram por certo em universo virtual,
Oculto mundo paralelo e estranho
Semelhante, sim, mas diferente
Um outro mundo afinal.

Mudaram os postulados,
Trocaram as condições,
O certo tornou-se errado
A escuridão, claridade.

Mas nem sequer é tão simples
Como transcrito em papel
Talvez ainda digam que o mal é mal
Mas o mal que eles próprios fazem
De súbito foi virado em bem.
 
Meu Deus, que infelicidade.
Afinal isto é confuso!
As regras são círculos,
Encerrados em círculos,
Onde nascem círculos
Cruzando outros círculos
E elipses e hipérboles
Torneando hipérboles.

Meu Deus, ajuda-me
Nesta nova geometria
Que, na minha incauta ignorância,
Parece uma anomalia.
Era tudo mais simples
Na minha remota infância!

E o Senhor me responde,
Com seu plácido sorriso manso,
De quem tudo aceita e suporta
E já não se espanta
Pois conhece a humanidade
Melhor que ninguém!

“É fácil, muito fácil
A verdade está sempre onde estão os poderosos
Sabes, aqueles senhores anafados, de anel no dedo
Rosto arqueado
E cabelo bem penteado.
De resto, é mesmo muito fácil,
Só tens que manter o teu registo tácito
De os olhares bem de frente
E concordares sempre.
Vai dizendo que sim
A todas as suas irrisíveis promessas
Não estranhes, não abras o jogo,
Não te tornes um alvo."

E depois sussurra-me em segredo
Uma estranha surpresa:
“Sabes, eles são tão incultos,
Mas tão confiantes
Na impenetrável rede de defesa
Com que se protegeram
Cercados de sólido muro
Que nem sequer notam
Que se contradizem.
Enganam, desdizem
Sempre que, altivos e com ar sisudo,
Acusam os outros de serem assassinos,
Maldosos, cruéis, profanos,
E assim, impunes ordenam
Que apodreçam no degredo."

Ana Redondo, Junho 2013

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